Espaço numérico digital destinado à circulação de informações culturais e de idéias provenientes de pessoas e dos afins dos descendentes físicos ou do pensamento de Mathias Simon (*05.05.1788 –+16.04.1866) e que ele materializou, em 1829, na migração com a sua família para a América.

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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Em DIA com a CULTURA dos SIMON – 04

MATHIAS SIMON e a
GENTE da FRONTEIRA do SUL do BRASIL

Mathias Simon nascera e criara na fronteira da Alemanha com a França. Migrando ao Brasil couberam-lhe terras na província do Rio Grande do Sul fronteira lusa em perpétua disputa com os castelhanos.
DEBRET, Jean Baptiste   Voyage pittoresque et histórique au Brésil 1839 Vol II Plancha39 -  p.1323 

Fig. 01 – Casal de viajantes sul-rio-grandenses
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Culturalmente esta fronteira sul-brasileira estabelecia-se  como tal também diante daqueles recém chegados e entre os que estavam a mais tempo na terra. Antes da imigração alemã Saint- Hilaire descrevera em 1823 os já aquerenciados:
“Na capitania do Rio Grande quando se sai a galope sobre um cavalo xucro, jogar o laço, lançar as boleadeiras, castrar um touro, matar um boi e esfolá-lo, não se quer saber de outra coisa”
DEBRET, Jean Baptiste   Voyage pittoresque et histórique au Brésil 1839 VolI final

Fig. 02 – O mapa do Sul do Brasil desenhado por Debret e com os dados que ele conseguiu recolher entre 1816 e 1831. Percebe-se o preocupante espaço vazio e as fluidas fronteiras  da bacia platina
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O espaço que esta índole local cultivava era a vida ao ar livre em largos afazeres próximas ainda à vida do caçador e do nômade. O espaço que esta índole deixava aos recém migrados era propício aos hábitos domésticos e aos trabalhos artesanais. Saint Hilaire havia notado, em 1823, esta faceta:“na capitania do Rio Grande as artes  são desdenhadas e maioria dos operários são estrangeiros”.
 Saint Hilaire estava falando de uma população de aproximadamente de 250.000 habitantes espalhados em todo território O Rio Grande do Sul contava em 1872  434.815 habitantes[1] após o falecimento de Matias Simon e depois da Guerra do Paraguai.
DEBRET, Jean Baptiste   Voyage pittoresque et histórique au Brésil 1839 Vol I Plancha23  p.40 

Fig. 03 – Índio Guarani em traje da época de Debret

 Esta pequena população numa fronteira instável inquietava o jovem Império brasileiro, pois poderia repetir-se o que acontecera em 1750 quando, depois das duas coroas marcharem unidas contra as Missões, houve sul-rio-grandenses que optaram por trabalhar a favor de Buenos Aires.
DEBRET, Jean Baptiste   Voyage pittoresque et histórique au Brésil 1839 VolI I Plancha 26  p. 84 

Fig. 04 – Acampamento de tropeiros no Rio Grande do Sul

O projeto da ocupação destas terras de fronteiras foi pensado e com previsão de recursos oficiais. No ano da Independência do Brasil este projeto oficial já estava alinhavado. O major Georg Anton Von Schaffer oferecia oficialmente aos candidatos a passagem, 78 hectares de terras, uma ajuda de custo diário de um franco (160 réis) ao longo de uma ano - metade disto no segundo ano - e animais como bois, vacas, cavalos, porcos e galinhas na proporção das pessoas de cada família.[1]. Estas promessas estavam ancoradas na crença do Estado nacional. Na Alemanha as aulas de Hegel, Goethe e Fichte preparavam as mentes e corações para acreditar neste poder e que se revelou favorável ao controle do comércio e de territórios cativos para a produção continuada das máquinas.
DEBRET, Jean Baptiste   Voyage pittoresque et histórique au Brésil 1839 Vol II  Plancha 40 p. 125 

Fig. 05 – Balsas de toras de madeira de construção descendo o rio.
Já se estudou os balseiros do Rio Uruguai que vieram até a metade do século XX. Faltam dados desta atividade na matas ciliares dos afluentes do Guaiba  como aquela da gravura de Debert.

Este projeto de ocupação e povoamento da fronteira do Brasil não era novo. Setenta anos, em pleno Iluminismo o objetivo era atrair os habitantes das ilhas super povoadas dos Açores. Na época posterior ao Tratado de Madrid e a destruição das Missões prometia-se, além da viagem “um quarto de légua em quadro  como o escritor Luis Assis Brasil resumia esta proposta[1].
DEBRET, Jean Baptiste   Voyage pittoresque et histórique au Brésil  1839 - Vol I Plancha 15 pp. 32/3  

Fig. 06 – Índios charruas do Rio Grande do Sul

O eterno problema era o sucesso na coerência entre os limites e as fronteiras físicas e as fronteiras mentais daqueles que viviam nestas fronteiras. Certamente um Estado torna-se histórico e próspero quando existir esta coerência. Esta coerência deveria ser conquistada na correspondência dos gestos concretos e nos hábitos que aos poucos deveriam serem inculcadas na sociedade civil por meio das instituições confiáveis e em especial na educação escolar.
Certamente o moleiro Mathias Simon estava pensando as razões pessoais da sua troca. Mas apesar deste projeto oficial havia a tarefa de gerar uma cultura no Rio Grande do Sul.  Este projeto não era fácil na perspectiva com que Saint Hilaire descrevia, em 1823, os habitantes desta terra 
“os homens do Rio Grande possuem, algumas vezes, uma fortuna considerável, mas ao ver as suas casas e a maneira como ali vivem, parece que estão na indigência”.
 Contudo o se potencial impressionou Saint Hilaire ao revelar (1823. p.56) o segredo do homem sul-rio-grandense:
“A capitania de Minas (Gerais) está se esgotando. A do Rio Grande se enriquecendo. Os mineiros possuem uma coragem ordinária. Os homens do Rio Grande distinguem-se por um valor brilhante, e , sob um chefe empreendedor conseguem facilmente conquistas em toda parte onde não forem constrangidos a deixar de lado  os seus gostos e seus costumes”.

Fig. 07 –  Gaúchos na lida do campo por William Rudolf Wendroth -c.1852

Com toda certeza este traço é o resultado de numerosos caldeamentos entre o indígena e de adventícios de todo origem e ordem. De outra parte este primitivo habitante foi sempre respeitoso com os gostos e os costumes dos recém chegados.
Assim Mathias Simon não foi contrariado na sua cultura que ele adquirira na fronteira alemã. Este fato é visível na língua alemã e no dialeto do Hunsrück[1] que permaneceram por gerações. As mudanças e as intervenções na adaptação à língua, à cultura e à política da terra, foi em grande parte, incentivado pelos descendentes de alemães mais letrados, como Carlos Von Kozeritz[2], a presença e ação dos pastores luteranos[3] e do jesuíta erudito alemão a partir de 1840[4]. Estes intelectuais perceberam que os laços com a pátria de origem estavam definitivamente cortados.  O estado Alemão seguira rumos próprios e que nada tinha em comum com os hábitos e gostos dos habitantes migrados dos estados que unificaram, depois, em 1870. De outra parte a língua nacional era o vinculo necessário ao imigrante nas suas interações com o projeto estatal brasileiro que havia sido o proponente e financiador inicial de sua mudança para as Américas.


[1]  - Confira algumas distinções ente o alemão gramatical e o dilato em http://buratto.org/gens/gn_nomesalemaes.html    Na prática esta distinção interferiu na grafia dos nomes de famílias na sua forma gramatical e aquela do Hunsrük. No alemão gramatical a palavra Simon é pronunciada como Zimon e o TH do nome Mathias segue a gramática antiga em que o TAU grego é escrito como th


[3]  - Entre tanto outros é possível destacar Wilhelm Rotermund http://pt.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Rotermund  e a editora por ele fundada continua a prestar relevantes serviços culturais e econômicos. Em pleno séc XXI.


DEBRET, Jean Baptiste Voyage pittoresque et histórique au Brésil1839 Título
Fig. 08 – Título da obras de Jean Baptista Debret - 1839


Mas em 1830 as notícias da Colônia de São Leopoldo chegavam a corte do Rio de Janeiro de onde, em 1831,  Jean Baptiste DEBRET as levou para a Europa onde as incluiu quando da impressão  em 1839:Ali consta (Vol. II, p. 138)[1] que:
“na Província do Rio Grande do Sul, citava-se, em 1830 - entre os felizes resultados os progressos da cultura colônia alemã de São Leopoldo, fundada em 1826 (sic) - a importação de lúpulo, que alimentava uma fábrica de cerveja: bebida útil que antes era importada da Inglaterra; e os produtos das artes mecânicas como a maravilhosa execução de toda obra de madeira de uma  capela recentemente construída em Porto Alegre, sob a direção e patrocínio do Visconde de São Leopoldo distinto historiador, literato e ex-ministro do Interior do Brasil”



[1] DEBRET Voyage pittoresque et histórique au Brésil Volume II  disponível integralemnte    http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/00624520 



ALGUMAS FONTES de IMAGENS deste TEXTO

DEBRET, Jean Baptiste (1768 – 1848) -  Voyage pittoresque et histórique au Brésil ou séjour d’un Artiste Français au Brésil depuis 1816 jusqu’en 1831 inclusivement. Dédié à l’Académie des Beaux-Arts de l’Institut de France par J.B.Debret, premier Peintre et Professeus de l’Academie Impériale Brésilienne des Beaux-Arts de Rio de Janeiro, Peintre particulier de la Maison Imprériale, Membre correspondant de la Classe des Beaus-Arts de l’Institut de France, et Chevalier de l’Orde de Crist. Paris : firmin Didot Frères, impremeurs de l »Institut de France, 1839, 3 vol.
Veja o

SAINT HILAIRE, Auguste 1779-1853  Aperçu d'un voyage dans l'intérieur du Brésil, la province Cisplatine et les missions dites du Paraguay Correspondant de l’Académie des Sciences. ( Extrait des Mémoires du Muséum d'Histoire Naturelle, 5e. année, t. 9.}, Imprimerie de A. Belin :  Paris,  l823, 73 p  Dedicatória de Saint-Hilaire ao Monsieur L'Abbé Correa
Disponível na Coleção Brasiliana USP -  http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01417800

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Em DIA com a CULTURA dos SIMON – 03

O  MIGRANTE SIMON no CONTEXTO da
CULTURA EUROPÉIA e AMERICANA.


A migração é um tema da maior atualidade, no início do século XXI, tanto para a Europa como para as Américas. A busca de horizontes mais favoráveis gera muitos conflitos e desconfortos. Contudo se sta migração conseguir completar o seu ciclo, como todo nascimento, traz, no seu final, novos mundos, novas mentalidades e progresso geral.
Quando a família Simon chegou ao Sul do Brasil, como originária  dos estados de fala germânica, o projeto açoriano da migração ao Brasil já havia se esgotado e dava os seus frutos.
O jovem Império Brasileiro tinha interesse nestas fronteiras. Inspirava-se nos exemplos históricos das colônias gregas, romanas e da política das nações colonialistas européias, da época, que garantiam assentamentos de novas populações que lhes eram favoráveis. Para os europeus estes territórios tentavam tornar favoráveis aos seus interesses. garantiam a sua política de reserva de mercado para  sua incipiente indústria. No Brasil estes habitantes vinham reforçar estrategicamente adensar as fronteira sul, recém consolidadas em 1810, e compensar a perda da província Cisplatina que estava em andamento e com resultados ainda imprevisíveis.
Na cultura o migrante sempre é uma pessoa especial, mesmo que ele não queira chamar atenção e faça o menor ruído possível. Torna-se especial tanto para o lugar que desocupa e de onde parte,  como no lugar e cultura onde ele chega. Georg SIMMEL[1] estudou as condições  e o  estatuto que cabem ao estrangeiro[2]. Este estatuto é respeitado no ambiente onde chega pois o estrangeiro torna-se uma espécie de juiz para os nativos pois trza para ele um “olhar neutro”.
A família SIMON foi da última geração a realizar a viagem sem o ruídos das maquinas cujo matraquear continuado ficou na lembrança das gerações seguintes. A geração de Mathias navegava ao sabor da água e do vento. Isto não significava um diminuto trânsito marítimo. Os Estados independentes da América, o sul da África e a Austrália recebiam continuadas levas de europeus. As catástrofes eram freqüentes e que eram silenciados pelas ondas do oceano. Raros sobreviviam, nestas tragédias, como aqueles que ficaram famosos na pintura da Jangada de Medusa[3] um episódio ocorrido em 1816 e que se tornou tema da pintura do jovem talento de Theodore Gericault (1791-1824)[4]
Fig. 01 – A jangada do “MEDUSA” (1819)- Theodore Géricault -
Óleo sobre tela 491 x 716 cm – Museu do Louvre

Historicamente a migração de Mathias Simon e de sua família para o Novo Mundo deu-se após o Tratado de Viena (1814-1815) e depois do retorno na França ao trono dos Bourbons e antes da Revolução de 1830 de Paris.
A industrialização estava mudando os panoramas geográficos, sociais e econômicos da Europa. Ela concentrava mão de obra nas cidades, despovoava o campo, gerando uma larga base social proletária ao lado das fábricas. As novas tecnologias necessitavam elevados e continuados capitais para adquirir e acumular os  materiais e insumos. Os capitais eram indispensáveis para comercialização intensiva e garantida dos produtos das máquinas em territórios aliados e propícios para o seu consumo, retornos projetados e embutidos nos investimentos iniciais.  

Pintura a óleo de C.J. H. Fedeler[1], de 1839 ( propriedade particular da família C. Wuppersahl, Bremen )   http://en.wikipedia.org/wiki/File:Olbers.jpg  
Fig. 02 – O veleiro trimastro Olbers.
Segundo o historiador Carlos Henrique Hunsche[2] em correspondência ao jornalista Camilo Simon, a família de Mathias Simon partiu do porto de Bremen no dia 26 de setembro de 1828 no veleiro Olbers. Ele era o maior dos navios que até aquela data haviam efetuado o transporte de imigrantes ao Brasil e fora especialmente preparado para o transporte de pessoas. Sob o comando do Capitão J. M. Herklots o Olbers efetuou 26º embarque  levando  874 passageiros. O Olbers chegou ao Rio de Janeiro no 17 de dezembro de 1828.


[2] HUNSCHE, Carlos e ASTOLFI, Maria. O Quadriênio 1827-1830 da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul. Editora GxW, Porto Alegre, 2004. http://pt.wikipedia.org/wiki/Coloniza%C3%A7%C3%A3o_alem%C3%A3_no_Rio_Grande_do_Sul 

Fig. 03 – A entrada da baia do Rio de Janeiro numa gravura de Jean Batiste Debret[1] que se encontrava no Brasil na época da viagem de Mathias Simon e Família.
Contudo muitas famílias se destinariam à Colônia Alemã de São Leopoldo. No Rio de Janeiro embarcaram 365 passageiros no navio Orestes no dia 18 de fevereiro de 1829. Chegaram ao seu destino final, em Saio Leopoldo, no dia 13 de março de 1829.


[1] - Conferir a viagem de Jean Baptiste ao Brasil em  http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/624510001
Fig. 04 – Vistas do Rio de Janeiro na época da viagem de Mathias Simon numa gravura de Jean Baptiste Debret (1768-1848) que esteve no Brasil de 1816 até 1831.

Quando um Simon sai de sua terra natal não quer dizer que não a ame mais. Bem ao contrário. Ele ama tanto a sua Hermesckeil de origem, ou depois Capela Rosário e tantos outros semelhantes, que planeja repetir e ampliar as lições de civilização que aprendeu e viveu no seu lugar de origem. Para isto ele procura um outro lugar para plantar, cultivar, colher, moer e viver desta mesma semente de sua origem.

Fig. 05 – Movimento no porto do Rio de Janeiro na época da viagem de Matias Simon numa gravura de Jean Baptiste Debret que trabalhou no Brasil de 1816 até 1831

Certamente esta é lição silenciosa mas inscrita na vida, nas ações e no legado que todos recebemos do patriarca Mathias Simon na  transumância que empreendeu, entre 1828 e 1829, da sua família e dos seus bens para Capela Rosário. Contudo transumância que não teve retorno pois a terra que ele escolheu revelou-se produtiva ao longo das quatro estações do ano.

Veja narrativas de outros imigrantes de época da migração de Mathias

Família ROCKENBACH

Família VOLTZ

Família WERLANG
http://www.editorawerlang.com.br/simon.asp  [mencionam também SIMON]

Família GOETEMS
http://www.goettems.com.br/ahist.htm (informações sobre veleiro trimastro OLBERS)

sábado, 18 de setembro de 2010

Em DIA com a CULTURA dos SIMON – 02

O MOLEIRO SIMON na
CULTURA EUROPÉIA e AMERICANA.

É possível especular, criar narrativas e retomar ao projeto de Mathias SIMON (1788-1866) nas Américas, tomando partido daquilo que sobrou dos vestígios da sua casa da Capela Rosário no município de São José Hortêncio-RS.
Foto de Círio SIMON
Fig. 01 – A Casa  de Mathias Simon na Capela Rosário numa visita dos seus descendentes em novembro de 2008.

Sem conhecer detalhes, ou documentos, é possível afirmar que Mathias tinha um ano de idade quando eclodiu a Revolução Francesa que marcou a passagem de era Moderna para a Contemporânea. Na França marcou o fim do Antigo Regime. Certamente para a pequena e tranqüila Hermeskeil, situada na fronteira com a França, significou muitas dúvidas, apreensões e que começaram a se concretizar quando Napoleão Bonaparte começou a galgar o poder. Para Mathias, na sua juventude, representou o serviço militar deste soberano francês, longas marchas, as batalhas, vitórias, interrompidas em Waterloo com derrota do Imperador no dia 18 de junho de 1815[1].
Detalhe de foto da Cãs Comerciial José Simon c. 1900
Fig. 02 – CASA COMERCIAL e SALÃO de FESTAS de
 JOSÉ SIMON descendente de MATHIAS SIMON.

O retorno dos Bourbons ao poder político na França, apoiados pela nobreza decaída, somado aos efeitos dos tratados do Congresso de Viena[1],  significaram para Mathias a sua reentrada em Hermeskeil. Ali retomou as atividades profissionais de moleiro, que se acredita herdado de alguém da família e as atividades da constituição da sua família com Margarida.
Não possuirmos noção do que significou politicamente, para Mathias, o fato de haver servido no exército francês diante das tradicionais e continuidades hostilidades entre os prussianos e franceses.
Além disto é possível acrescentar, neste contexto político, as mudanças econômicas e técnicas na rotineira vida agrícola atingida pela concentração de capitais, de mão de obra nas cidades e dos meios de produção a serviço da era industrial. Para Mathias, ainda na rotina da era agrícola, no contraditório com esta era industrial, a sua atividade de moleiro não significava uma tarefa única e rotineira, pois era harmônica com um número elevado de outras funções e de atividades produtivas.


[1] -Veja Congresso de Viena (02.05.1814 até 06.06.1815)[1],  http://pt.wikipedia.org/wiki/Congresso_de_Viena

Foto de Círio SIMON
Fig. 03 – Regato que corre ao fundo da Casa  de Mathias SIMON e que movimentava o seu moinho.

Não possuímos cartas ou textos escritos por Mathias SIMON e nem uma biografia autorizada. Contudo há possibilidade de perceber o drama de Hathias ao ler a obra O moleiro de Saint-SOUCIdo advogado, poeta e dramaturgo François Guillaume Jean Stanislas Andrieux (1759-1833)[1] que narra em 1797, o confronto, em 1745,  do moleiro de Saint-Souci com Frederico o Grande e famosa frase “ainda há juizes em Berlim[2]
Até a era industrial, o moinho era um dos lugares mais propícios à socialização. o moinho - e as fontes de água - era lugar de intensa socialização concorrendo com os mercados públicos e os prédios oficiais e religiosos. No moinho ocorriam os encontros entre rapazes e moças. Era lugar  e oportunidade para bailes, música e trocas simbólicas e materiais. Um exemplo desta ampliação está no famoso quadro de Renoir “Bal du Moulin de la Galette”[3]
Como é possível verificar nos vestígios que nos deixou Mathias Simon, em capela Rosário este moinho evoluía para espaço do comércio e do salão de festas e bailes.
O status social do moleiro, de outra parte fazia com que ele estivesse entre a servidão geral e a nobreza. Na contemporaneidade, na  chamada micro-história, o italiano Carlo Ginzburg retoma a narrativa do moleiro, sua condição social e suas idéias no processo da Inquisição detalhado. Na obra O queijo e os vermes - O cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição,  onde ele narra o cotidiano, a vida e o julgamento do moleiro italiano "Domenico Scandella, conhecido por Menocchio"[4]




[2]  O moleiro de Saint-SOUCI” em http://www.loiseaulire.com/Anciens/Andrieux.html   

[4] GINZBURG, Carlo 1939 – O queijo e  os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo : Companhia das Letras, 2006, 255 p                   ISBN 9788535908-107

Foto de Círio SIMON
Fig. 04 –  O que restou da canalização do regato que movimentava o moinho localizado no fundo da Casa  de Mathias Simon.

Tudo isto deve ter pesado para ele recomeçar, do outro lado do Atlântico, a sua vida e da sua família. Mathias tornou o seu projeto de abandonar o velho Mundo irreversível, um ano  antes dos acontecimentos revolucionários, em 1830, que sacudiram de novo a França.
A nossa sociedade, interessada em recursos naturais e não agressivos, com mais tempo para ócio e para o turismo,  está buscando estas fontes e seu sentido para a atualidade e para o futuro da humanidade. No Rio Grande do Sul já se fizeram notáveis esforços para balizar o “Caminho dos Moinhos”, do qual infelizmente o moinho de Mathais, além de já demolido, não faz parte.
Imagem do Jornal dos SIMON nº 37 Porto Alegre, set 2010, p. 06

Fig. 05 –  As duas mós do Moinho de Mathias SIMON preservadas por Fabrício SIMON MARTINS em Novo Hamburgo – RS..

         A frase : “ainda há juizes em Berlim” ainda soa forte e é frequentemente aplicadaA frase faz sentido quando traduz a defesa dos resultados do trabalho perseverante do moleiro que busca conservar o  direito aos seus bens materiais e imateriais conquistados com este trablho honesto de gerações. Os “juízes da História  fazem justiça ao moleiro Mathias Simon (*1.788+1.866) por meio da voz e pelas ações justas e fraternas dos seus descendentes